domingo, 26 de janeiro de 2014

Páginas, cenas e músicas


Durante essa semana, pulularam listas solicitadas por amigos no Facebook, nas quais figuravam os dez livros que mais marcaram seu leitor. A orientação era que eles fossem listados rapidamente, sem a necessidade da ordem ter relação com preferência.

 
Resolvi fazer aqui o contrário e enumerar de maneira consciente dez títulos relacionados com literatura, histórias em quadrinhos, cinema e música. Por ter feito a lista de supetão, acabei deixando de fora alguns nomes em minha timeline do Facebook. 

 
Isso ocorreu porque literatura e quadrinhos se misturaram, já que a nona arte adquiriu o status de book e deixou de ser apenas gibi. Pensei que seria um exercício legal listar também filmes e álbuns de bandas que sempre acabo revisitando. 

 
Páginas que são lidas várias vezes. Filmes vistos em inúmeras ocasiões. Músicas ouvidas no volume máximo com o modo repeat acionado. Todos eles estão nas quatro listas abaixo. 

Seguem.

Literatura:
1. Contos Reunidos - Rubem Fonseca
2. Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa
3. A Menina Que Roubava Livros - Markus Zusak
4. Misto-Quente - Charles Bukowski
5. Açúcar Amargo - Luiz Puntel
6. Agosto - Rubem Fonseca
7. Histórias Extraordinárias - Edgar Allan Poe
8. Vidas Secas - Graciliano Ramos
9. Dois Irmãos - Milton Hatoum
10. A Grande Arte - Rubem Fonseca

Histórias em quadrinhos:
1. Watchmen - Alan Moore e Dave Gibbons
2. V de Vingança - Alan Moore e David Lloyd
3. Absolut Sandman - Neil Gaiman
4. Batman: O Cavaleiro das Trevas - Frank Miller
5. Daytripper - Fábio Moon e Gabriel Bá
6. A Piada Mortal - Alan Moore e Brian Bolland
7. Maus - Art Spiegelman
8. Sin City - Frank Miller
9. Diomedes - Lourenço Mutarelli
10. Elektra Assassina - Frank Miller

Filmes:
1. Pulp Fiction - Quentin Tarantino
2. Cães de Aluguel - Quentin Tarantino
3. Onde Os Fracos Não Têm Vez - Ethan e Joel Coen
4. Os Imperdoáveis - Clint Eastwood
5. Clube da luta - David Fincher
6. Batman: O Cavaleiro das Trevas - Chistopher Nolan
7. Nascido Para Matar - Stanley Kubrick
8. Forrest Gump - Robert Zemeckis
9. Coração Valente - Mel Gibson
10. O Resgate Do Soldado Ryan - Steven Spielberg 

Álbuns:
1. ...And Justice For All - Metallica
2. Master Of Reality - Black Sabbath
3. II - Led Zeppelin
4. Toxicity - System Of A Down
5. Paranoid - Black Sabbath
6. Presence - Led Zeppelin
7. IV - Led Zeppelin
8. Smash - The OffSpring  
9. Black Sabbath - Black Sabbath
10. Kill'em All - Metallica 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Cenhos franzidos, olhares perdidos e punhos cerrados – Barba ensopada de sangue

 
Texto publicado no Homo Literatus em 21 de janeiro de 2014.

Daniel Galera é um autor de livros com nomes brutos, violentos e robustos, como se pode conferir em Dentes Guardados e Mãos de Cavalo. Sua obra mais recente, Barba Ensopada de Sangue, não foge a essa regra.

Um professor de educação física de Porto Alegre, especializado em natação e triatlo, muda-se juntamente com a cachorra Beta para a paradisíaca Garopaba, localizada no litoral de Santa Catarina, após o anunciado e consumado suicídio de seu pai. A mudança se dá por conta do obscuro passado do avô paterno, que teve uma nebulosa morte no pequeno e misterioso povoado catarinense.

Ao chafurdar nesse tempo distante e identificar-se como neto de Gaudério, o protagonista perceberá que está num silencioso e mortífero ninho de cobras venenosas. Ninguém sabe de nada ou ouviu falar do homem ao qual o recém-chegado se refere. Mas a menção desse nome causa desconforto secretamente visível, que pode ser notado em cenhos franzidos, olhares perdidos e punhos cerrados.

 
Em Garopaba, a lei não é determinada por órgãos burocráticos superiores, mas pela população constituída em sua maioria por pescadores supersticiosos, cultivadores de lendas e mitos surgidos naquelas areias, dispostos a defender seu território da maneira que julgarem necessária.

Ao bancar o detetive para descobrir a verdade sobre seu avô, esse inculto educador físico descobre muito a respeito de si mesmo, cuidando e desenvolvendo inexplicável afeto pela velha cachorra deixada aos seus cuidados por seu pai, cultivando novas amizades e amores carnais passageiros de mulheres diferentes. A semelhança física com seu avô aumenta conforme deixa sua barba crescer, tornando essa característica facial um símbolo do selvagem legado deixado por Gaudério.

Assim como o protagonista de filmes de faroeste, o personagem principal de Galera é o incômodo forasteiro que desagrada os nativos de Garopaba. A narrativa ou o modo como a história é contada prende o leitor em uma leitura agradável e envolvente, com descrições minuciosas sem serem exageradas, utilizando como matéria-prima cenários com marcas populares de cerveja e personagens particularmente comuns. Bonobo, Altair, Dália, Jasmim e Viviane, são pessoas que encontramos todos os dias na rua,no trabalho, na faculdade. Tudo isso aproxima essa história fictícia da realidade do leitor, tornando a saga de avô e neto barbudos ainda mais cativante.

Com história forte de ritmo tranquilizador, Barba Ensopada de Sangue é daqueles livros pelos quais lamentamos quando a última página é virada.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Mergulho nos mares da ficção

Texto publicado no Homo Literatus em 7 de janeiro de 2014.

Ao ler o artigo intitulado Brazil’s most pathetic profession, escrito pela Vanessa Barbara no New York Times em 16 de dezembro último, fiquei a refletir sobre a situação na qual se encontram certas profissões em nosso país.

Em seu texto, Vanessa dá ênfase à vida de escritor no Brasil. Em meio a seus relatos pessoais, de como faz malabarismos para conseguir complementar sua renda de escritora em um país que lê pouco, ela cita a mais importante de todas as profissões, que também não é valorizada por essas terras: a do professor.

Sou um desses malucos que sonham com a profissão desprofissionalizada de escritor. Como se não bastasse, estou me graduando para, possivelmente, em algum futuro distante, dar aulas.

Não, não ganho nada para escrever nos três sítios da internet dos quais faço parte. Escrevo artigos para Homo Literatus, Obvious e Donnerwetter! pura e simplesmente por gostar de transformar ideias em palavras, e também por ser fanático por literatura, cinema e histórias em quadrinhos. O que faço para sobreviver é algo totalmente diferente.

Há sete anos trabalho como mecânico em uma empresa brasileira do ramo aeronáutico. Antes disso, trabalhei quase trinta e seis meses como torneiro em uma pequena fábrica de implementos agrícolas.
Por que escolhi essa profissão? Quando me formei no ensino médio, queria ser jornalista, mas o desejo de ganhar meu próprio dinheiro foi maior, daí resolvi fazer o curso profissionalizante de Mecânico de Usinagem e o técnico em Mecatrônica. E é graças a esses diplomas que consigo ganhar um salário anual maior que o de escritores e professores.

Se gosto do que faço? Acredito que em toda e qualquer profissão haja aprendizados que podemos carregar por toda a nossa vida, então, mesmo não sendo uma área que eu desejasse desde pequeno, considero interessante trabalhar com a tecnologia aeronáutica.

Se abandonarei a profissão de mecânico quando me formar em Letras? Não. Acho muito difícil abandonar um emprego com salário razoável e benefícios por uma profissão pouco valorizada. Sim, seria uma jornada sofrida, como já é atualmente. Mas ser jornalista, escritor ou professor no interior de São Paulo não garantiria que eu conseguisse bancar todos os gastos que uma faculdade, mesmo sendo pública, exige. Nesses últimos dez anos, descobri que, se quiser trabalhar com o que gosto, também terei que me desdobrar em algo diferente, com jornadas duplas e identidades secretas.

No dia 2 de janeiro o jornal O Estado de São Paulo publicou matéria apontando “que a narrativa em tiras é a preferida de 45% dos estudantes do ensino fundamental e médio.”. Só consegui enxergar essa frase pelo viés pessimista relacionado à brevidade, e não à contundência desse tipo de mídia.
 
Os alunos continuam lendo pouco, os professores e os escritores continuarão a ganhar salários pífios e o Brasil continuará a ser o país que reluta em acreditar que os leitores emergem melhores como seres humanos após um mergulho nos mares da ficção.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Velho ventilador da infância

 
É mais do mesmo afirmar isso, mas ainda me impressiono com a descartabilidade e pouca vida útil com que as coisas são feitas nos dias de hoje. Televisores, computadores, smartphones. Tudo feito com plástico frágil, quebradiço, substituível.

No filme O Palhaço, dirigido e estrelado por Selton Mello, o protagonista da história sai em busca de seu sonho de consumo: um ventilador. Esse filme é pura nostalgia. A trilha sonora apresenta canções imortalizadas de Nelson Ned, Altemar Dutra e Lindomar Castilho. 

Quando consegue adquirir seu tão sonhado ventilador, o palhaço Benjamin obtém um modelo idêntico ao que havia na casa dos meus pais quando eu era criança. Plástico resistente e grades de metal compunham sua estrutura. Botão regulador de potência. Hélice verde. Corpo em tom pastel desbotado. Esse eletrodoméstico só parou de funcionar porque acabou caindo no chão de uma altura relativamente grande. Era um item feito para durar, ao contrário dos concebidos pelas frenéticas e robóticas linhas de produção atuais.

Em meio a esse emaranhado de tecnologias fadadas à troca, encontrei na casa de um amigo, localizada na tecnológica cidade de São Carlos, uma sala que serve como refúgio a todas as coisas velozes e furiosamente passageiras.


Uma sala de música arejada, com cortinas reguladoras de penumbra, sofás confortáveis, tapete centralizadoramente macio, estante de madeira maciça sobre a qual estão acomodados um robusto televisor Panasonic, um aparelho de som Gradiente DS-40, livros antigos (como o Urupês pré-modernista de Monteiro Lobato, que antecede a todas as modernidades tecnológicas e literárias), manuais de redação, enciclopédias, CD's que vão do soul ao rock n' roll e, ao lado dessa rica prateleira, uma respeitável coleção de vinis.

Ao passar breves e saborosos dez minutos ali, sentado, com os pés descalços enfiados no tapete felpudo, no ensurdecedor silêncio de uma tarde dominical rompido apenas por uma fresca e sussurrante brisa, senti-me como um rebelde que insiste em não concordar com um mundo tão absurdo, no qual as pessoas imploram para serem vigiadas pelo viciante Big Brother travestido de redes sociais, indivíduos que querem a todo momento trocar seus celulares recém-adquiridos por outro mais moderno com funções futilmente novas. A ostentação mudou de posse. Não é mais financeira, com joias e imóveis, mas sim tecnológica.

Por um feliz e fugaz momento, cheguei a pensar que aquela corrente de ar refrescante estivesse sendo enviada pelo velho ventilador da minha infância.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Um mundo fora deste mundo

 
Essa profissão meio amalucada de escritor realmente não é fácil. Além de muitos deles ganharem mal, tem essa coisa de criar uma história, com personagens humanamente complexos, cenários convincentes, contexto histórico. Há ainda as famosas crises de criatividade, na qual esse infeliz se depara com uma folha de papel em branco e não consegue preenche-la.

Digo isso porque coloquei na cabeça que quero escrever uma coletânea de contos. Sim, vergonhosamente venho aqui dizer essa barbaridade. Não que eu almeje o estrelato ou algo do tipo, nada disso. Nem porque dizem que temos de escrever um livro, plantar uma árvore e outras balelas. Apenas gostaria de ter essa experiência, criar um mundo fora deste mundo, mas que ainda assim fosse uma imitação desse universo que chamamos de verdadeiro.

Tudo isso começou por culpa do Marçal Aquino. Gosto da literatura do cara desde os tempos de Coleção Vaga-Lume. Daí que, por esses dias, acabei comprando o volume de contos Famílias Terrivelmente Felizes, editado pela Cosac Naify. Confesso que ainda não terminei de ler o livro. Mas nem precisa disso, porque o primeiro conto, intitulado "Impotências", é daquelas histórias que fazem o leitor ruminar aquilo por muito tempo.

 
O narrador fala de certo tio que não teve as oportunidades que outros indivíduos tiveram na vida, passando boa parte dela dentro de um hospício, definhando até a morte. Tudo é dito de maneira breve e simples, como se aquele que relata a trajetória de seu parente fosse um homem cansado, que encosta no balcão de um boteco, pede uma cachaça e começa a divagar sobre as dificuldades do cotidiano sem que ninguém, além do dono do bar, lhe dê atenção.

As frases do conto são precisas, contundentes, poéticas. Talvez seja esse o principal fator que tenha me motivado tentar lapidar algo difícil de se fazer, pedindo conselhos a amigos que ainda não são conhecidos pela mídia, mas que, para mim, são grandes escritores. 

E é isso, por enquanto.