domingo, 24 de junho de 2012

Divagações verborrágicas (in)úteis

Alguns indivíduos são mestres em elaborar discursos que podem ser tanto exaustivos como interessantes, dada a quantidade de referências às quais percorrem para expressar os seus pensamentos. Acompanho alguns jornalistas que o fazem com viciante perfeição. Tenho professores que se perdem no emaranhado de ideias que pulsam no seu velho baú cerebral empoeirado.

Nesse momento em que busco a combustão inspiradora necessária para elaborar algo conciso e coerente, passeio por quartos vazios, com paredes brancas, isentos de móveis ou indivíduos que possam dar consistência àquilo que aqui despejo sem nenhum tipo de intenção. Aliás, talvez haja uma: o simples e rotineiro ato de deslizar a esferográfica azul por uma folha de papel com linhas vazias e vê-la finamente verborragicamente preenchida.

Já li em textos teóricos que, quando escrevemos, sejam esses escritos classificados como ficção, relatório, resenha, poesia ou qualquer outra coisa que os valha, não somos nós, os escritores, relatores, resenhistas, poetas ou qualquer função que nos valha, quem falamos, mas sim outros indivíduos aos quais assimilamos escritos em algum momento de nossas vidas.

Analisando o que acima já foi escrito, noto que me utilizei do termo literário "verborragicamente", que se refere à classificação dada pelos críticos à verborrágica narrativa de Raduan Nassar. O modo como aqui descrevo, deixando a palavras sairem para passearem veloz e displicentemente pode ser um eco das poucas, porém apaixonantes e marcantes e cativantes leituras que fiz de José Saramago. Ou quem sabe das muitas e não menos apaixonantes ou marcantes ou cativantes apreciações das narrativas velozes, sutis, poéticas e violentas de Rubem Fonseca.

Os discursos aos quais me referi no início, nessa folha de papel que há instantes estivera vazia, pertencem a uma arte que pode resultar, assim como outras formas artísticas, como o cinema, a literatura, a pintura ou as histórias em quadrinhos, em algo digno de elogios ou xingamentos, dada a sua utilidade. Ao leitor, que busca leituras que acrescentem algo aos seus intelectos, esse texto será inútil. Mas para quem o escreveu, foi uma boa saída para ocupar sua ociosa e desorganizada caixa de ideias por alguns minutos.

domingo, 17 de junho de 2012

Poder. Poder. Poder.

Brasileiro não gosta de política e partidarismos do mesmo gênero. Nem mesmo os que exercem a função que se dedica a tal ciência gostam do que fazem, pois aplicá-la deve ser coisa complicada, complexa e, deveras, de outro país, ou quem sabe planeta, ou até galáxia, já que, por aqui, poucos (ou nenhum) vi que a exercesse com prazer ou honestidade ou razão ou decência.

Incrível mesmo é notar que uma função tão burocrática e enfadonha dê tanto poder àqueles e, como não, àquelas que entram para o ramo. Poder. Poder. Poder. Três poderes que não remetem nem ao Judiciário, nem ao Executivo, nem ao Legislativo, não senhor, não senhora. É poder para fazer coisas, assim, digamos, aquelas coisas que não podem, mas, com poder, podem.

Essa força manipuladora, desmembradora e avassaladora dada aos políticos, já formou chefões que fariam o Don Corleone de Mario Puzo e Francis Ford Coppola parecer um mero traficantezinho de merda parecer isso aí mesmo: uma merda. Para ser patrão no crime político organizado brasileiro o sujeito tem que ser profissional.

Aqui vivem e atuam verdadeiros gênios das coisas (aquelas, citadas acima) feitas na surdina, na malandragem, na molecagem, na pilantragem. São indivíduos tão brilhantes na arte do crime que às vezes os seus egos extremamente inflados acabam por esbarrar uns nos outros, e aí, camarada, já viu, é aquela coisa, o time não pode ganhar se um estiver ganhando mais do que o outro, meu mensalão não pode e não deve e não vai ser menor que o dele, aquele safado, ladrão, caluniador, mentiroso, caluniador e mentiroso, mentiroso e caluniador.

O mais legal, aqui no nosso querido e varonil país, é que a cada dois anos temos a oportunidade de escolher variados e interessantes perfis criminosos, não tem essa de ser imposto, deram-nos o privilégio de saber exatamente quem é que vai roubar nosso dinheiro, ora essa, só faltava ser um desconhecido. 

E, nesse ano, apresentam-se os candidatos a comandar  nossas províncias, assim como os denominados vereadores, que debatem e debatem e debatem questões que, dada as suas complexidades, não se resolvem, mas eles estão lá para quem quiser ver, batem cartão para debater, debater e debater.

Fiquemos, então, ligados nos promissores e melhores indivíduos que por aí aparecerem. Quem sabe não podemos ser os responsáveis por lançar o futuro novo criador de um grande escândalo parlamentar? Porque, levar dinheiro na meia ou na cueca e não declarar uma grande soma de dinheiro arrecadado, já é coisa ultrapassada. Dos tempos de Don Corleone.

domingo, 10 de junho de 2012

Mocinhos e bandidos

Para esse ano, muito anseio pelo lançamento de um filme que chegará às telonas apenas no natal: Django Unchained, dirigido pelo fantástico Quentin Tarantino. Além de ser grande admirador da obra desse diretor, outro fator que muito me instiga a esperar esse longa com grande impaciência é o gênero ao qual ele se encaixa: será um western ou faroeste ou mesmo "bang-bang", nome que os antigos davam a esse tipo de filme.

Desde muito novo já tinha contato com esse tipo de ficção. Não através do cinema, mas com as histórias em quadrinhos protagonizadas por Tex Willer (destacado na imagem ao lado) e Kit Carson, uma dupla de rangers que aterrorizava os bandidos mais temidos do velho oeste. Criado pelo italiano Sergio Bonelli, Willer era dono de um carisma fantástico, além de possuir um senso de humor que muito agrada a seus leitores, através de diálogos sarcásticos com seu companheiro Carson, ou mesmo antes de colocar seu inimigos para dormir.

Outro personagem ao qual eu também fui leitor assíduo era Zagor, o "Espírito da Machadinha". Idealizado por Guido Nollita (pseudônimo de Sergio Bonelli), Zagor, educado por índios após a morte de seus pais, também é um famoso combatente do velho oeste, tendo como companheiro o engrassadíssimo mexicano gorduxo Chico. Tanto Zagor quanto Tex tinham como inimigos assaltantes, assassinos e tribos indígenas hostis, que davam aquela clássica aparência ao gênero: as disputas entre mocinhos e bandidos.

Essas batalhas são mais conhecidas no cinema. Diretores e atores como John Ford, Sergio Leone, Clint Eastwood e John Wayne criaram e interpretaram personagens que ficaram marcados na história do cinema. Para ir me aquecendo, enquanto espero pela chegada do novo Tarantino (que já se utilizou de elementos do western nos dois volumes de Kill Bill), revisitei alguns dos memoráveis filmes desses grandes artistas.

The Good, The Bad and The Ugly (Três homens em conflito, no Brasil) é certamente um dos melhores filmes do gênero, que mostra ao espectador uma primorosa direção de Leone, além de um clássico e impecável Eastwood. Unforgiven (Os Imperdoáveis), dirigido e protagonizado por Clint Eastwood, também  faz jus ao Oscar de melhor filme que recebeu em 1992. E The Searchers (Rastros de ódio) é um clássico de John Ford interpretado por um ainda mais clássico John Wayne.

Essa trupe de diretores, atores, escritores e personagens certamente muito influenciaram Tarantino na composição de sua trama, protagonizada por Jamie Foxx, que terá a companhia de Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio. Espero que, assim como as obras acima citadas, esse filme possa ser inserido com um "grande" na história do western.

domingo, 3 de junho de 2012

O fardo da leitura

Escrevi várias vezes nesse espaço sobre as dificuldades encontradas pelos escritores quando tentam transformar ideias abstratas em grafemas concretos. Elaborar frases simples ou mirabolantes, revisar palavras repetidas, procurar uma fórmula que ajude no desenvolvimento da escrita, enfim, fazer acontecer, prender a atenção de alguém que se proponha a ler o que ali está exposto. E é justamente esse último e mais importante elemento de todos esse processo o que mais me preocupa: o leitor.

Em minha primeira postagem aqui nesse blog, argumentei que o manteria ativo para praticar minha escrita, exercitar meu poder de articulação e que não me importaria se não houvesse pessoas para analisar meus textos, seja elogiando ou criticando. Ledo engano. Conforme o tempo foi passando e algumas pessoas se mostraram mais assíduas às leituras desse espaço, comecei a me preocupar cada vez mais com o que aqui é escrito.

Em uma aula de literatura dessa semana, foi discutido qual o tipo de leitor que os escritores procuram atingir. De fato, quem escreve espera ser lido. Mas por quem? Minha preocupação aqui é fazer dissertações ou ficções que possam agradar, mesmo que de forma parcial, aos que, por exemplo, gostam ou não de literatura, ou leitores que estão apenas navegar despretensiosamente pela grande rede.

Para quem possui blog, o seu pagamento é ver que seus artigos mostram-se cada vez mais frequentados. Se gerarem comentários, melhora ainda. O que dirão então os escritores profissionais, criadores de histórias, que dependem dessa função para viver. Se desagradarem a seus leitores mais fiéis, correm o risco de não atraírem mais nenhum tipo de público.

Falando agora como leitor, essa função também apresenta suas agruras. Se escrever pode ser um vício incontrolável, a leitura apresenta-se da mesma maneira. O leitor dependente de sua função muitas vezes lê coisas que não gostaria de ler, escritos que assim como podem dar prazer, também causam ansiedade ou sofrimento.

A leitura abre a mente para novos horizontes e despertam um senso crítico que jamais será perdido. E, num mundo como no que vivemos, deparar-se com uma verdade que muitas vezes é irreversível, talvez possa ser o maior fardo que o leitor carregue.